sexta-feira, 30 de agosto de 2013

MÁGICA CORPORAL

Samuel Macêdo Guimarães
smgbahia@ig.com.br


Quando amanhece a cada dia da nossa vida, acordar parece ser uma magia eterna. De onde saímos? Onde estávamos? A luz novamente brilha, e nosso metabolismo vital, sob efeito do calor do sol, nos lança diante da vida como ela é.
Muitas vezes uma vida repleta de afazeres, preocupações rotineiras, tarefas por realizar, desejos buscados, idéias e ideais revelados na lida com a matéria em sua eterna relação com o espírito.
Outras vezes o prazer nos impõe um descanso necessário para repor o sentido da felicidade, mesmo passageira, ou a alegria de voltar a olhar para os entes queridos por mais um dia construído entre espaços de probabilidades e possibilidades da constante descoberta de nós mesmos no convívio do lar, trabalho ou outro lugar qualquer.
Nosso corpo começa tomando contato do retorno do sono, um estado de consciência mais profundo vai cedendo lugar ao estado de vigília. Nossa corporeidade começa a espreguiçar-se, como se anunciasse a continuidade da eterna magia que é sentir a vida.
Nossa linfa se dissolve novamente e nosso fluido sanguíneo ganha uma nova movimentação, os neuropeptídios se arrumam para a jornada do dia como se fossem músicos, afinando seus instrumentos, para tocar mais uma sinfonia.
A inteligência contida em cada célula se experimenta no ambiente corporal desperto, no grande baile que, a cada dia, dançam microorganismos eternos e unidos para formar a vida pluricelular de um macroorganismo chamado gente.
Para alguns será seu último dia, depois de uma vida inteira de vivências; para outros, o início de uma jornada anunciada, depois de um tempo de espera. Nascer ou morrer sob o signo do humano em meio a uma diversidade estonteante que este planeta oferece é uma dádiva maravilhosa.
Nossa corporeidade – que é o sentido máximo da concentração de todos os movimentos feitos ou por fazer, na direção do pensado para o realizado, ou em sentido contrário – nos envolve num élan de conhecimentos de nós mesmos que envolve múltiplos encontros nas infinitas dimensões dos espaços de probabilidades e possibilidades do ser e do estar, criando um tônus necessário ou possível para cada momento.
Nesse sentido a mágica se anuncia: é gente diferente a cada respirar, que convive com as eternas variedades, formando unidade na diversidade. É gente que olha, escuta, saboreia, percebe cheiros e sensações táteis.
Mais além: é gente que possui crenças e valores, sonha dormindo ou acordado, se emociona com situações as mais diferentes entre si. Convive com amor, alegrias, tristezas, raivas, medos e outras coisas mais.
Em outros momentos discute, dialoga. Dá e aceita opinião, percebe-se incompleta, inconclusa. Percebe seus defeitos e qualidades e admite ou não as próprias imperfeições. Briga consigo mesma, com os outros, também faz as pazes e, quando erra, pode até ser capaz de admitir que errou.
Nessa dinâmica, pode desculpar ou pedir desculpas. Sabe que nem sempre será assertiva. Ao errar, sabe que tentou e, se possível, utiliza o livre arbítrio para tentar quantas vezes quiser.
Ousa, busca desafios. Desiste ou se revolta, perde e ganha, aprendendo com cada um a dimensão de verdade e mentira que existe, tanto no ganhar quanto no perder.
Descobre novos mundos vivendo cada dia neste velho mundo de agora ou de depois. Acata as surpresas, convive com os antípodas, desvela-se nos análogos e, quando sente que sabe que não sabe, busca os guias ou as próprias guianças.
Na preguiça desfruta o ócio necessário para retomar a luta e depois se levanta, buscando seus destinos. Tenta fazer o melhor e o que mais gosta, mas, em certos momentos, procura gostar também daquilo que está fazendo.
Tira o pé da cama, apóia-se no chão para viver o momento, mas sabe que, entre um instante e outro, existem o passado e o futuro. Sabe que um é memória, e o outro é espera e esperança. Sabe que podem ser outras coisas também.
Nessa magia, ainda existe a lembrança de que é livre para se comprometer ou descomprometer e que, para isso, tanto faz a pressa ou a calma. Sabe apenas que o que mais importa é o compasso do seu tempo, do qual pode ser o próprio senhor ou senhora.
Por fim diz obrigado, bom dia, se cuida e cuida de outras gentes. Uns bem próximos, outros tão longe. Mas, a verdadeira distância, já aprendeu que está somente no pensamento.
Por isso, quando acordar amanhã, lembre-se de conviver melhor com a sua mágica corporal. Ela se renova sempre, mas é necessário obter a sua permissão.
 

 

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