sábado, 12 de novembro de 2011

INTELIGÊNCIA CORPORAL AUTONOMA

 Samuel Macêdo Guimarães[1]


Pensamos neste dia, para este espaço, refletir sobre certa maneira de agir no mundo, que nos mantém vitalizados e que precisa ser estimulada. A essa maneira de agir denominaremos de Inteligência Corporal Autônoma.
Procede-se por princípio, reconhecido por muitos estudiosos, de que existe uma quantidade de energia que está por natureza, inseparavelmente ligada em cada um de nós, uma quantidade que não está sujeita ao assédio violento de forças exteriores para aumentá-la ou diminuí-la. Ela precisa apenas ser reconhecida.
Os corpos-no-mundo são vivos por que estão em constante fluxo. Eles se movimentam. Eles se alteram completamente. Possuem em si mesmo os potenciais da Inteligência Corporal Autônoma que atuam com um sentido voltado para as nossas intencionalidades.
Estas intencionalidades refazem a leitura de mundo, traduzem as percepções, de uma visão linear para uma visão multirreferencial não linear e que pela aplicação da voluntariedade, podem liberar nossa memória cinestésica - um banco de dados de maneiras de agir - dos movimentos associados aos estereótipos que paralisam a nossa consciência.
Dessa forma, constrói-se um campo perceptivo no qual é possível estabelecer um espaço de silêncio perceptivo. Um processo de elevar o nível de compreensão de si mesmo com base num diálogo interior, promovendo um efeito que vitaliza nossos principais centros energéticos corporais.
Inicialmente e necessário desarticular progressivamente  nossa aguda atenção ao cotidiano, ocupamos nossa consciência com tantas coisas que dizem respeito ao que precisamos fazer ou ao que não precisamos fazer no mundo da vida que ficamos com pouca disponibilidade para liberar nossa memória cinestésica dos seus curtos-circuitos.
Estimular o olhar e o respirar, acionados a contextos não cotidianos, por exemplo, abrem-se espaços para a Inteligência Corporal Autônoma trabalhar para proteger nosso organismo das ações negativas do processo desvitalizador e repetitivo do cotidiano.
Outro aspecto a ser observado é o de desviar-se da comparação, imitação e de comandos sintáticos, formas elogiosas ou depreciativas construídas na linguagem, cujo princípio é o de homogeneizar as pessoas com frase do tipo: “você não poderia fazer melhor” - “fique frio” - “melhor assim” - “nenhum problema” - “é hora de se preocupar” - “não consigo emagrecer” - “queria ser diferente” - “preciso encontrar forças” - “estou com problemas”.
Sabendo-se que a totalidade do comportamento humano recebe uma forte influência da linguagem, todos os seres humanos aprendem a reagir a estes comandos sintáticos. Uma das condições fundamentais para neutralizar tais comandos sintáticos, é a pessoa desenvolver um senso perceptivo, de como reage a eles e, pela reflexão crítica, poder afastar-se das conseqüências negativas que esses podem provocar. Outra é sair do vínculo pastoral, ou seja, de uma excessiva dependência da constituição de imagens de mundo, do outro e de nós mesmos, produzidas a partir de motivações externas via de regra criadas com caráter desvitalizador.
Por que acreditamos nestas afirmações? Os seres humanos estão em uma viagem de percepção, mas estão quase sempre, sendo momentaneamente interrompidos por ações exteriores. Isso nos faz esquecer de que somos criaturas envolvidas em uma evolucionária caminhada perceptiva. Muitos de nós, ainda não sabe que somos desconhecidos de nós mesmos, repletos de recursos incríveis que nunca são utilizados.
O Ser Humano é captado pelo seu sistema perceptivo em dois níveis: o macro e o micro. O macro é captado como biológico, o micro é captado como sensível. O que podemos entender é que nas duas esferas modificam-se apenas as aparências, permanecendo sempre a mesma essência, ou seja, a utilização da Inteligência Corporal Autônoma.
Uma metáfora pode se percebida nessas circunstâncias de compreensão de mundo: Corpo biológico e corpo sensível são manifestações distintas do mesmo Campo. Então temos um só campo, um corpo-no-mundo. Um sistema vibratório lidando com situações dinâmicas que interagem em movimentos organizados nos conduzindo a expressividade. Essa expressividade pode criar prazer ou produzir estresse. É a nossa Inteligência Corporal Autônoma que determinará.
Sendo assim, somos seres-no-mundo em que a vibração é referencia para a experiência dialógica no processo das relações humanas. Ou seja, o corpo é a base energética do ser humano para despertar sua vitalidade, conectar-se diretamente com o propósito, uma forma de intencionalidade que é considerada ferramenta essencial para as pessoas se beneficiarem da Inteligência Corporal Autônoma.
Olhar para algo, por exemplo, uma praia, ou como a praia é conhecida por nós, é muito mais uma interpretação do que percepção. Para estabelecer o sentido da presença de uma praia, temos na realidade um vislumbre superficial de alguma coisa. Uma interpretação de praia, retirada de um repertório infinito de interpretações da nossa memória cinestésica. O sentido visual entra em contato com o influxo energético que vem livremente do universo, e o faz apenas de uma maneira superficial.
Assim, pela intencionalidade é que desvelamos o mundo, como mundo dos objetos do nosso conhecimento. O problema é que em alguns momentos chega a ser conhecimento virtual, impondo um aprendizado superficial através do nosso sentido visual e, preenchendo os espaços vazios deixados pela percepção sensível direta. A intencionalidade não pertence apenas ao domínio físico, ela é algo como uma onda energética, um raio de energia que se vincula a nós.  Uma dimensão holográfica do saber.  
Para ampliar a compreensão das nossas intencionalidades, a experimentação e reflexão autocrítica são pontos de partida e a dimensão da totalidade,pode ser também ferramenta para nos desviar do erro relativo de acreditar na percepção pura. Ela provavelmente será o subproduto das nossas intencionalidades e a nossa Inteligência Corporal Autônoma, quando sensibilizada, nos desviará das certezas absolutas e por esta razão nos deixará mais vivos, menos anestesiados, muito mais despertos e plenos de vitalidade do sentido da própria presença. Quem não gostaria?


[1] Professor da UESC